16 de dez. de 2007

Sorte, sorte na vida

Ela estava começando a carreira de modelo. Era vistosa, bonita, tinha cabelos encaracolados. O book já estava até pronto. Não ia à escola já fazia uma semana e uma mentirosa disse que tinha a visto jogando vôlei na rua, enquanto curava da catapora. A professora de matemática entrou na sala naquela tarde de outubro da quarta série e nos contou a notícia. Thaísa tinha sofrido um acidente e os médicos estava fazendo tudo que podiam, mas talvez, ela voltaria pra sala de aula sem um pedacinho da perna. Mas que apesar de tudo, tínhamos que ficar feliz e dar força pra ela, pois ela ia precisar de muita.

No dia do amigo secreto, último dia de aula, ela nos fez uma visita. Não teve jeito e ela perdeu realmente uma perna um pouco acima do joelho. Naquele dia, ela não nos deixou tirar fotos, e ela contava a triste história do feriado prolongado e de como ela pediu aos médicos que tirassem a sua vida, mas não a sua perna.

Naquelas férias, fomos visitar a Thaísa. Ela estava fazendo as provas oficiais em casa já que tinha perdido todas. Seus pais estavam se separando e além de tudo, estavam de mudança. Ela colocou essa música que está no título do post e disse que era uma das preferidas dela. Acho que talvez por isso tenha marcado tanto pra mim, não só a música mas toda essa história.

O ano recomeçou, ela apareceu de prótese e de muleta. Andava devagar, fazia curso de pintura e não perdia os passeios da escola, ainda que fosse de calça jeans e brincasse com a gente na balança, resistindo o dia de sol na piscina. Sei que hoje ela já até tem um filho e que apesar de tudo, está muito bem, porque independente de qualquer coisa, a vida tem que continuar.

Às vezes eu acho que a vontade de ficar no sofá é maior, ou que choramingar em ouvido alheio é mais fácil. Mas a realidade é que ninguém supera nada sem tentar reverter a situação, por mais difícil que seja. Outras vezes eu acho que o que falta é sorte. Que o esforço é suficiente, mas que talvez não esteja dando certo por falta de sorte. E lembro que a gente é bem recompensado quando realmente quer alguma coisa, mas não basta querer. Tem que tentar, lutar, dar olé, rezar, fazer macumba, jogar pro universo, dar o máximo, pra aí sim conseguir. Sem se importar com a dificuldade, foco no resultado!

2 comentários:

Anônimo disse...

Mas reparou que às vezes a gente tenta, luta, dá olé, reza, faz macumba, joga pro universo, dá o máximo, e mesmo assim não chega a lugar algum? Não sei, mas desconfio que, por terem passado por problemas maiores, algumas pessoas ganham de presente outras oportunidades. E aí vem aquela velha e chata história de que a gente tem saúde, família, e não deve reclamar. Que merda...

Tata disse...

Essas histórias fazem eu me sentir muito mal.. tipo a da Menina de Ouro...